Por Eduardo Murin
Por atuar em sistemas de franquias há duas décadas, uma das perguntas que, recentemente, mais tenho ouvido em oportunidades de contato com amigos, conhecidos, interessados, participantes de feiras e eventos, candidatos e clientes é a seguinte: “Como faço para ter uma franquia?”. Assim que ouço tal indagação, ocorre-me, imediatamente, uma outra que, a propósito, serviria como resposta à primeira: “Será que você está pronto para ser um franqueado?”.
Com essa questão, não me refiro, simplesmente, a tempo disponível, qualificações técnicas ou montante de capital para investir; me refiro, em primeira instância, à prontidão de espírito.
A transição de um executivo de carreira, empreendedor independente, profissional liberal ou estudante, para o papel de franqueado requer algumas reflexões e ponderações. Além de, apenas para criar uma analogia simplista, pode ser comparável a uma série de experiências em outras esferas pessoais, sociais e empresariais. Na verdade, para muitos se assemelha quando nos mudamos de uma casa de rua para um apartamento em condomínio. Sendo a primeira, algo como um empreendimento independente e, por sua vez, a segunda, como uma franquia. Na casa de rua, há certa sensação de maior liberdade, maior distanciamento em relação a vizinhos, dentre outros aspectos, porém, ao mesmo tempo, toda a manutenção, organização, limpeza e segurança representam afazeres que cabem única e, exclusivamente, a seus moradores, a não ser que optem por contratar e remunerar profissionais para cada uma das referidas responsabilidades. Falando assim, as tarefas mencionadas anteriormente parecerem para alguns, algo relativamente simples, porém são trabalhosas e envolvem custos.
Neste sentido, a casa oferece a sensação de conforto, mas também transmite a ideia de que ônus e bônus recaem sobre a individualidade de quem à habita. O peso das decisões solitárias é redobrado. Seria, por um certo prisma, um ambiente menos hostil e estrito. No entanto, possivelmente, menos estruturado, tornando-se mais frágil e menos perene, sobretudo, em função de que rumos e decisões seriam de foro íntimo, de modo mais erráticas. Não há massa crítica suficiente, nem a força da coletividade.
Já no caso do apartamento em condomínio, o morador abre mão de certo grau de privacidade e, por vezes, de espaço e é submetido a um rigoroso conjunto de normas de conduta e boa convivência; é obrigado a custear uma taxa condominial mensal e a discutir a tomada de decisões pelo bem comum.
Todavia, nem sempre condizentes com suas convicções ou preferências individuais. Ao mesmo tempo, desfruta de maior segurança e, usualmente, de melhor infraestrutura, serviços de manutenção e limpeza e acesso ao convívio social mais próximo.
Pode-se dizer que, provavelmente, o ambiente seja mais rígido. Entretanto mais organizado, estruturado e progressista. O interesse coletivo, teoricamente, leva à condução mais competente e longeva da administração do patrimônio e bem-comum. São muitas cabeças pensantes e olhos observadores para atuar e fiscalizar. Em resumo, funciona como uma genuína e vivaz rede.
Sem o espírito de comunidade, fica praticamente impossível a qualquer pessoa conviver em ambiente de condomínio. Desta forma, o mesmo ocorre no ambiente de uma rede de franquias, já que seu ecossistema requer a compreensão e adoção de importantes premissas coletivas, mas devolve a quem as compreende um efervescente cenário e um fértil campo para o crescimento empresarial, com segurança e ótimas perspectivas.
Isto posto, vale ressaltar que, se você entendeu a analogia feita e, mesmo assim, se interessou por franquias, é provável que esteja mentalmente pronto para ser franqueado. Portanto, apto a “se mudar para sua nova residência em condomínio”. Haverá muito trabalho para deixar o apartamento em ordem e se adaptar ao estilo condominial de vida. Mas, uma vez concluída essa etapa e quando estiver com sua família e amigos à beira da piscina, provavelmente, irá se dar conta de que tenha tomado a decisão certa. Eduardo Murin – Diretor de expansão da rede de escolas de idiomas CNA.
Comments